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“Escravidão econômica” é a quinta e última parte da série “Como o dinheiro é criado?“. Artigos escritos em linguagem simples para você entender o sistema monetário moderno e como ele impacta na forma como vivemos.
No artigo anterior você viu que o sistema de reserva fracionada possui impacto na inflação, que é um imposto oculto e não é possível resolver o problema da inflação com um sistema que cria dinheiro a partir do nada.
Importante:
Caso você não tenha lido a quarta parte, é recomendável você voltar e ler o artigo:
Até agora o que vimos nesta séria baseada no trabalho de Tashtamirov, é que o dinheiro na verdade é criado a partir de uma dívida, instrumentalizado através de empréstimos. Os empréstimos são baseados nas reservas do banco, que por sua vez tem origem nos depósitos à vista em conta corrente. Através do sistema de reserva fracionada, cada depósito pode ser expandido por várias vezes a depender da taxa definida pelo banco central, que no Brasil é conhecido como compulsório ou índice de basiléia. Este sistema resulta no aumento do suprimento monetário do país que causa uma depreciação do dinheiro existente em circulação, elevando os preços dos produtos e serviços.
Como todo este dinheiro é criado a partir de dívidas e passa a circular livremente pelo comércio, as pessoas acabam se distanciando de sua dívida original. Surge portanto um desequilíbrio natural quando as pessoas são forçadas a competirem por empregos com o objetivo de retirar dinheiro do suprimento monetário suficiente para cobrir o seu custo de vida.
Tudo isso parece meio defeituoso e um pouco distorcido, mas ainda existe mais um elemento que omitimos nesta estória toda e que revela a natureza fraudulenta do sistema monetário.
Cobrança de Juros
O governo quando toma dinheiro emprestado do banco central ou quando qualquer cidadão também faz empréstimos em um banco comercial, este empréstimo deve ser pago de volta depois de uma período de tempo determinado acrescido de juros. Ou seja cada real existente deverá ser devolvido algum dia para o banco embutindo os juros.
Já sabemos que todo dinheiro é criado no banco central e é expandido nos bancos comerciais através dos empréstimos, portanto o suprimento monetário nacional é apenas a somatória de todos os empréstimos existentes, o que é conhecido como principal.
Bom, aí eu te pergunto: De onde é que vai sair o dinheiro para pagar os juros?
Resposta: de lugar nenhum! Isso mesmo, o dinheiro para pagamento de juros não existe.
As ramificações disso é inacreditável. A quantidade de dinheiro que devemos aos bancos será sempre maior do que a quantidade de dinheiro em circulação. Isso ficou claro? O dinheiro em circulação é o principal, o que devemos sempre é o principal mais os juros.
É por isso que a inflação vai existir eternamente e ela sempre vai crescer.
O governo sempre faz novos empréstimos para pagar empréstimo antigos mais os juros, isso é conhecido como rolagem da dívida. Saiba de uma coisa, o governo nunca paga sua dívida, ele sempre faz novas dívidas para pagar as dívidas que estão vencendo, é por isso que a dívida pública nunca diminui, pelo contrário ela só cresce.
Uma consequência lógica deste sistema é que os calotes, crises e quebras de bancos são partes inerentes do sistema capitalista. Quem acaba sofrendo mais com tudo isso é a parcela mais pobre da população.
Analogamente a uma dança das cadeiras, quando a crise chega, a música pára e alguns caem de bunda no chão e na sequência a música começa a tocar novamente iniciando assim um novo ciclo econômico, aqueles que conseguiram sentar em alguma cadeira, se levantam e vivenciam a recuperação econômica, com crescimento e abundância.
Escravidão econômica
A maioria de nós não somos capazes de compreender a natureza escravizante deste sistema, porque nós não conseguimos parar de jogar o jogo da eterna busca por riqueza, correndo atrás do dinheiro e acumulação de capital.
O sistema monetário moderno que possui influência na maior parte do bancos mundiais é um tipo moderno de escravidão econômica.
O que uma pessoa endividada normalmente faz? Ela busca trabalho para pagar a dívida. Mas se o dinheiro é criado através de dívida, a sociedade nunca vai conseguir se livrar das dívidas.
O conceito principal por trás deste sistema monetário é:
Causar o medo na população de perder seus bens e propriedades, provocar uma constante busca por mais acumulação de patrimônio, incentivar o endividamento permanente, com inflação integrada ao sistema combinada com uma deficiência inevitável na reserva de dinheiro provocada por juros que não podem ser pagos, mantem a população diretamente dependente do sistema monetário.
Finalmente, para quem nós trabalhamos de verdade? Para os bancos. O dinheiro é criado nos bancos e termina nos bancos.
Vivemos numa escravidão econômica, onde pessoas buscam para si o consumismo através de um monte de coisas falsamente consideradas como necessárias para sua sobrevivência e em cima da compra de tudo isso pagam tributos para seus senhores na forma de empréstimos, juros e taxas.
Esta é uma das mais inteligentes armadilhas já criada contra a sociedade. Ela esconde uma guera invisível contra a população. Nesta guerra, as dívidas são as armas e os juros são a munição usada para capturar e escravizar a sociedade.
Esta é a definição de escravidão econômica através da organização de um sistema monetário baseada em dívidas, calotes, quebras de bancos e crises. A medida que a sociedade se desenvolve este sistema monetário também se desenvolve criando novas táticas econômicas para escravizar a população.
Fonte: Modern Monetary Mechanics Booklet, Modern Money Mechanics as a Basis of Economic “Slavery”, Modern Monetary Mechanics Wikisource, Sistema Monetário, Narrativa em vídeo de Modern Monetary Mechanics, Global Wealth Report, Half of world’s wealth now in hands of 1% of population – report, Sistema bancário de reservas fracionárias, Real (Moeda), Meio Circulante, Quanto dinheiro está em circulação no mundo?, Banco Data.
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Interessante abordagem. Sugiro como complemento o documentário do Noam Chomsky, “Requiem for the American Dream”. No documentário ele trata um histórico sobre a economia Americana e fala também deste modelo escravizante. Ele apresenta uma visão mais à esquerda da política, mas independente da inclinação política individual de cada um, é possível extrair conteúdo relevante.
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Obrigado Phillipe. Vou olhar sim.
Eu acredito na idéia de que a pessoa quando tem conhecimento, conhece as regras do jogo, ela tem vantagem competitiva. Muita gente é vitimada pelo sistema simplesmente por não conhecê-lo. Por isso gosto da educação fora do sistema formal, controlado por quem quer que você permaneça na ignorância.