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A internet está cheia de pessoas contando lindas histórias de sucesso. Você entra numa livraria e lá estão vários livros de biografias relatando como grandes nomes chegaram ao ápice de suas carreiras.
Porém, muito do que é escrito, é puramente uma falácia narrativa. Técnica usada para tornar histórias ordinárias em algo interessante comercialmente.
Sara Lewis, em seu livro O Poder do Fracasso, coloca em evidência como as tentativas frustradas, os caminhos tortuosos e às vezes os retrocessos foram necessários para alcançar a excelência.
Eu acredito que o aprendizado proporcionado pela dificuldade, pelo erro e pelo fracasso é muito intenso, marcante e nos torna mais fortes e resilientes.
Nesta linha de pensamento, o portal Admitting Failure encoraja as organizações a revelarem seus fracassos. Eles acreditam que somente o reconhecimento do fracasso é capaz de trazer avanços para as organizações.
Desta forma em um ambiente onde os funcionários não se sentem à vontade para errar e admitir seus erros não haverá espaço para novas ideias ou questionamentos sobre como melhorar.
Por isso que eu gosto de escrever textos relatando para você experiências fracassadas com o objetivo de extrair os ensinamentos que me ajudaram a atingir o êxito.
Dito isso, está fundamentado as razões que fizeram eu voltar para a bolsa na pior crise econômica deste país. Todavia se passaram 5 anos desde a minha saída fracassada do mercado de capitais em meados de 2009.
O começo
Eu sempre tive uma boa relação com dinheiro, desde muito cedo, este credito é da minha mãe – muito obrigado. Embora eu tenha cometido muitos erros, uma coisa que sempre fiz foi praticar o princípio mais básico da educação financeira que é gastar menos do que ganha.
Desta forma eu criei o modelo mental que se eu não guardasse um pouco de dinheiro todo mês, alguma coisa eu estaria fazendo de errado.
Portanto se eu sempre guardei dinheiro, logo eu teria que investir este excedente de alguma forma.
O presente
Em um determinado dia, um querido amigo me deu de presente um curso de investimento em ações. Ele comprou o curso e ganhou o direito de convidar uma pessoa.
Este curso foi ministrado por agentes de mercado de uma grande corretora de valores que estava instalando um escritório em minha cidade.
Nós aprendemos o mundo maravilhoso de como ganhar dinheiro de várias formas negociando ações na bolsa através da análise técnica.
Aquilo era realmente encantador, pois a partir de um computador eu poderia analisar uns gráficos, ler algumas notícias, pegar umas dicas com os agentes de mercado e enviar uma ordem de compra ou venda, com apenas um clique do mouse e realizar os lucros.
O super-herói
Trader era o nome da roupa de super-herói que eu acabara de vestir.
E foi assim que mergulhei nos estudos dos gráficos e vários indicadores estatísticos de preços para especular sobre o movimento do mercado.
Então foi nesta época que eu abri minha primeira conta em uma corretora de valores para utilizar o home broker para operar no mercado de capitais.
O fracasso
Usando dos poderes recém adquiridos, comecei a operar. Nesta época, existia alguns investimentos modinha. Um deles era negociar ações da Vale. Todo mundo falava que era lucro certo e assim o fiz, comprei ações VALE3 a R$ 48,00. Passou alguns meses e o mercado chacoalhou e eu caí fora, vendi as ações a R$ 38,00, primeiro porque eu estava morrendo de medo e segundo, eu precisei do dinheiro. Realizei uma perda de 20% nesta operação.
A segunda modinha que eu embarquei, foi na maior onda de IPO (Initial Public Offering) – é uma sigla para Oferta Pública Inicial – já vista no Brasil. Tudo estava dando certo e eu ouvia vários amigos falando que participara de alguns IPOs que resultou em bons lucros.
Sendo assim não podia ficar de fora. Entrei na maior oferta pública inicial da história da bolsa de valores de São Paulo. O ano era 2009 e o Santander movimentou R$ 14,1 bilhões de reais na sua estreia na bolsa, com o preço por ação fixado a R$ 23,50.
Eu investi acreditando que alguns meses depois realizaria um belo lucro, mas o que aconteceu é que pouco tempo depois um agente da corretora me ligou e disse que as perspectivas não eram boas para ação. Me recomendou sair e assim autorizei a venda das ações por volta de R$ 18,00. Nesta operação realizei mais um prejuízo de 23%.
E desta forma eu saí definitivamente do mercado para ficar por volta de 5 anos sem querer saber de ações.
Lições aprendidas
Explicar o passado é muito fácil, o difícil é adquirir bagagem prática e teórica sem passar pela dor da experimentação, erro e aprendizado.
Hoje eu vejo alguns erros importantes:
- Eu realmente não sabia muito bem o que estava fazendo. Na prática eu achava que sabia, mas estava de fato seguindo a boiada, acreditando em conselhos e dicas de pessoas que também não entendiam ou não estavam defendendo meus interesses;
- Eu não tinha um entendimento claro do meu perfil de investimento. Isso fez eu entrar na bolsa pela porta errada, usando as ferramentas erradas com a estratégia errada. Eu não sou trader e sim um investidor de valor, portanto a análise técnica focada simplesmente no movimento dos preços no curto prazo é a ferramenta errada para meu perfil;
- Na condição de novato, eu deveria estar apoiado por profissionais do mercado com análise profunda e isenta das empresas para embasar minha decisão de investimento;
- Toda vez que entrava em alguma operação, ficava ansioso, com medo e torcendo para que a coisa desse certo. Isso fazia com que eu ficasse o dia todo olhando para os preços e só ficava pensando no que podia acontecer de errado. Como diria um amigo filósofo contemporâneo: “Algo de errado não está certo”;
- Investir dinheiro na bolsa sem antes ter uma reserva de emergência é um erro clássico, revela uma imaturidade e total falta de conhecimento e planejamento. Nota zero para mim.
Conclusão
A minha volta para a bolsa aconteceu 5 anos mais tarde em meio a maior crise financeira do Brasil.
No entanto desta vez muito mais bem preparado. Além de estar mais experiente, achei uma estratégia mais alinhada ao meu perfil de investidor e principalmente com o apoio de profissionais de análise independente. Este último obviamente deve estar defendendo os interesses do investidor, caso contrário não serve.
No próximo artigo quero compartilhar como que esta experiência fracassada me ajudou a encontrar uma tese de investimento que está trazendo resultados positivos.
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